Na época que estagiei no Lasarte, na Espanha, muitos desistiram, mas aguentei firme até o fim

Já comentei por aqui no blog que ser Chef não é glamour como muitos veem. Tem que amar muito o que se faz para aguentar horas na cozinha, o ritmo e as cobranças, principalmente, quando se está no início de carreira.

Contei uma vez para a Folha de S. Paulo, sobre a época em que estagiei na cozinha do Lasarte, um premiado restaurante na Espanha, três estrela no guia Michelin. Foi em 2007, quando eu tinha 22 anos, e tive a oportunidade de trabalhar com o chef Martín Berasategui, um dos ícones da cozinha molecular.

Vi muita gente desistir no primeiro dia, pois não era nada fácil, era quase um treinamento militar. Primeiro, porque durante o estágio você fica alojado em um apartamento com várias pessoas e ainda se trabalha no restaurante quantas horas forem necessárias.

No Lasarte, é servido um menu degustação de mais 15 pratos, que precisam sair montados de modo perfeito e idêntico. Por isso, tinha muita pressão e cobrança na dinâmica do trabalho e nos mínimos detalhes. Eu ficava na área de preparação das entradas e das carnes.

Um episódio que me marcou muito foi quando na função de cortar milimetricamente brotos que enfeitavam os pratos, devolvi por deslize a caixa com alguns com as hastes. O chef berrou comigo, jogou a caixa com terra na minha cara. Fui chorar dentro de uma câmara frigorífica.

Apesar disso, o trauma foi superado, aguentei firme e trabalhei lá por cinco meses. Foi uma verdadeira escola e carrego muitos aprendizados dessa época. Por isso, digo que é preciso ter muito amor à profissão, por mais que situações como essa aconteçam, sempre há um aprendizado.

Se eu voltaria? Não apenas voltaria, como já voltei uma vez!

Ao lado do chef Martín Berasategui durante meu estágio no restaurante Lasarte.